O povoado campaniforme fortificado da Moita da Ladra (Vila Franca de Xira, Lisboa)

2013 
O povoado calcolitico muralhado de Moita da Ladra implanta‑se no topo de uma elevada chamine vulcânica, que domina todo o estuario do Tejo. O pretendido prosseguimento da exploracao de uma pedreira de basalto no local determinou a sua escavacao integral. As estruturas identificadas sao de caracter defensivo e habitacional. As primeiras integram uma muralha de contorno elipsoidal, em parte desaparecida, mas cujo comprimento foi possivel estimar em cerca de 80 m, possuindo a largura de cerca de 44 m, englobando duas torres macicas e uma entrada, voltada para o estuario do Tejo, que se estende do lado sul. O enorme esforco construtivo envolvido em tal operacao explica‑se, sobretudo, pela preocupacao de conferir visibilidade acrescida ao dispositivo implantado no topo da elevacao, ate pelo contraste oferecido com a coloracao negra dos basaltos subjacentes. Esta evidencia conduz a admitir que, a par da funcao defensiva corporizada pelo recinto muralhado – e talvez mais importante do que ela – estaria implicita, na sua construcao, a necessidade de marcar fortemente o lugar, constituindo um verdadeiro marco construido na paisagem. Por outro lado, a implantacao deste povoado calcolitico pode relacionar‑se com o controlo do acesso a vasta bacia interior correspondente a varzea de Loures, cuja rede de drenagem se articula, a montante, com a bacia hidrografica do rio Sizandro, na parte vestibular da qual se localiza o povoado calcolitico fortificado do Zambujal. A unica fase de ocupacao identificada, condiz, por seu turno, com o facto de a edificacao do dispositivo muralhado ter sido efetuada de uma unica vez, correlativa de camada pouco potente contendo espolios arqueologicos escassos mas diversificados, caracterizados pela associacao das cerâmicas decoradas do grupo «folha de acacia/crucifera» a producoes campaniformes, de tecnica pontilhada, integrando vasos maritimos e vasos com decoracoes geometricas. As datacoes de radiocarbono indicam que a ocupacao do povoado se verificou na segunda metade do 3.o milenio a.C., tal como se observou noutros sitios altos e fortificados da regiao, como Penha Verde e Leceia, sendo coeva dos pequenos sitios abertos de encosta onde comunidades campaniformes de raiz familiar se dedicavam as atividades agropecuarias. As diferencas na qualidade dos recipientes campaniformes caracteristicos de ambos os tipos de implantacao indica que nos primeiros se sediaram as elites a quem caberia o controlo dos territorios respetivos, como foi o caso dos habitantes da Moita da Ladra. Por outro lado, a coexistencia de producoes campaniformes e nao campaniformes do grupo «folha de acacia/crucifera», configura uma realidade cultural cuja importância foi devidamente valorizada no presente artigo.
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