Avaliação do rastreamento do câncer do colo do útero em Minas Gerais a partir de dados do SISCOLO

2021 
O objetivo desta tese foi avaliar as acoes de rastreamento do câncer do colo do utero (CCU) pelo Sistema Unico de Saude (SUS), em Minas Gerais e sua conformidade com as recomendacoes do Ministerio da Saude. Para isso, foram realizados tres estudos: no primeiro, as acoes de rastreamento foram avaliadas por meio de um estudo descritivo com base em dados agregados do SISCOLO, referentes ao periodo de 2006 a 2011, disponiveis no DATASUS. Foram analisados indicadores relacionados as caracteristicas da oferta de exames citopatologicos, a qualidade do exame, a ocorrencia de alteracoes celulares e ao seguimento informado dos casos de lesao de alto grau em Minas Gerais. Verificou-se que a razao de exames citopatologicos do colo do utero em mulheres de 25 a 59 anos manteve-se estavel em Minas Gerais de 2006 a 2011. Aproximadamente 75% dos exames foram realizados em mulheres de 25 a 59 anos e houve progressiva reducao na proporcao de citopatologicos do colo do utero sem citologia anterior. Em media, 51,2% dos exames foram realizados no periodo de ate um ano. Quanto a qualidade do exame, destacase o indice de positividade, categorizado como baixo durante todo o periodo analisado. O segundo estudo consisitiu em um estudo descritivo, de coorte naoconcorrente, baseado em dados identificados do SISCOLO com objetivo de estimar a cobertura do rastreamento do câncer do colo do utero em 2008 e a proporcao de sobrerrastreamento por periodicidade e faixa etaria no estado. A cobertura foi calculada utilizando exames de mulheres de 25 a 59 anos e 25 a 64 anos apos exclusao de duplicidades e separacao dos exames de seguimento, ficando apenas um registro de exame por mulher nesse ano. O sobrerrastreamento por faixa etaria correspondeu ao percentual de mulheres com <25 e ≥65 anos. O sobrerrastreamento por periodicidade foi avaliado a partir do seguimento de mulheres de 25 a 64 anos submetidas ao rastreamento em 2008 atraves do relacionamento probabilistico entre as bases de 2008 a 2012 (seguimento 2008-2012). O tempo ate o proximo exame citopatologico foi definido como o intervalo entre a data de coleta do primeiro exame normal com amostra satisfatoria realizado em 2008 e a data de coleta da primeira repeticao deste exame. Para mulheres que iniciaram o rastreamento em 2008, o sobrerrastreamento por periodicidade foi definido como a repeticao em um periodo inferior a 9 meses e, para aquelas que iniciaram o rastreamento previamente, a repeticao em um periodo inferior a 30 meses. Verificou-se que, em 2008, 1.211.014 mulheres foram submetidas ao rastreamento do CCU pelo SUS em Minas Gerais, sendo que 75,8% estavam na faixa etaria de 25 a 59 anos e 79,8%, na faixa etaria de 25 a 64 anos. A cobertura foi de 77,6% na faixa etaria de 25 a 59 anos e de 76,2%, de 25 a 64 anos. Identificou-se o seguimento de 1.162.405 mulheres sendo o sobrerrastreamento por periodicidade de 3,9% para aquelas que iniciaram o rastreamento em 2008 e de 62,6% para as que tinham exame previo. O sobrerrastreamento por faixa etaria correspondeu a 20,2% do total de mulheres submetidas ao rastreamento em 2008, sendo que, em mulheres que estavam iniciando o rastreamento em 2008 foi de 49,6% e, naquelas com exame previo, foi de 14,9%. No terceiro estudo, os indicadores obtidos no segundo foram utilizados para a realizacao de um estudo ecologico, cujas unidades de analise foram as 77 microrrregioes de saude de Minas Gerais. Tal estudo teve como objetivo avaliar a desigualdade regional da cobertura do rastreamento do câncer do colo do utero, em 2008, em Minas Gerais e sua associacao com indicadores socioeconomicos e assistenciais, e descrever a distribuicao espacial do sobrerrastreamento nas microrregioes do estado. Os resultados indicaram que as microrregioes que apresentaram as menores coberturas estavam concentradas, em sua maioria, nas macrorregioes Nordeste, Jequitinhonha, Leste e Leste do Sul, que se caracterizam por piores indicadores socioeconomicos. O IDH apresentou associacao positiva com a cobertura. Os sobrerrastreamento por periodicidade e por faixa etaria apresentaram padrao diferenciado de distribuicao espacial entre si e entre mulheres que estao iniciando o rastreamento e aquelas que tem exame previo. Pode-se concluir, entao, que apesar de a cobertura no estado estar proxima da meta de 80%, havia desigualdade regional no acesso ao exame, com areas de melhor nivel socioeconomico apresentando maiores coberturas. Indicadores de qualidade do exame estavam abaixo da meta e o sobrerrastreamento era elevado no estado. Quanto a periodicidade, o sobrerrastreamento foi mais importante em mulheres que deveriam fazer o exame a cada tres anos e quanto a faixa etaria, em mulheres que estavam iniciando o rastreamento. Os resultados corroboram o carater oportunistico do rastreamento do câncer do colo do utero e evidenciam a necessidade de aprimoramento do programa no estado de Minas Gerais. Ressalta-se que o presente trabalho possibilitou o desenvolvimento de uma metodologia que tornou possivel a estimativa da cobertura e a realizacao do seguimento de mulheres submetidas ao rastreamento utilizando dados do SISCOLO. Tal metodologia pode ser utilizada em outros contextos com objetivo de monitorizar as acoes de rastreamento e contribuir para o aperfeicoamento do programa de rastreamento.
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