O uso de drogas recreativas e medicamentos psicoativos na população universitária da UFMT - Cuiabá

2019 
Segundo Cassia Rondina, Gorayeb e Botelho (2007), corroborados por Calheiros, Oliveira e Andretta (2006) alcool, cigarro e maconha podem aliviar sintomas depressivos e de ansiedade, substituindo ou se combinando aos medicamentos psiquiatricos. Mas tambem podem interferir no desenvolvimento dos transtornos mentais, incluindo alterar as opcoes de tratamento dos alunos (Cunha, 2006). Por isso, faz-se necessario pesquisar a relacao entre tais drogas e seus efeitos na vida do academico. Dessa forma, este trabalho teve por objetivo investigar se o consumo de drogas interfere no uso de medicamentos psiquiatricos entre universitarios, alem de levantar o perfil dos usuarios dessas substâncias. Trata-se de um estudo transversal, realizado na UFMT/Cuiaba. A amostra foi composta por 465 estudantes de graduacao entrevistados no 2o semestre de 2017. Foram elaboradas 20 questoes fechadas para levantar sintomas depressivos, medicacoes, alcool, drogas, e a realizacao de tratamentos. Os formularios foram entregues aos participantes da pesquisa em sala de aula e eram respondidos de acordo com a disponibilidade dos estudantes. Com o resultado dessas questoes foi realizada uma analise estatistica descritiva e inferencial para Odds Ratios de associacoes entre sintomas de depressao, uso de medicamentos psiquiatricos e consumo de alcool/drogas entre os estudantes. Alcancamos alunos dos cursos de Educacao Fisica, Enfermagem, Psicologia, Ciencias Sociais, Geografia, Letras, Ciencias da Computacao, Engenharia Eletrica, Geologia e Sistemas de Informacao.Os alunos foram majoritariamente solteiros, na faixa etaria de ate 24 anos, no inicio ou meio de curso (ate o 6o semestre) e demonstraram-se satisfeitos com a opcao do curso. Observamos que 15% dos estudantes usavam alcool, 6% cigarro, 6% maconha e 1% outras drogas. Quanto aos tratamentos de saude mental, 3,6% utilizavam antidepressivos, 2,8% ansioliticos e 8,8% faziam Psicoterapia.O uso de antidepressivos ocorreu principalmente na faixa de 17-24 anos (2,6-6,8x maior do que entre os alunos mais velhos, acima de 25 anos), por alunos que nao moravam sozinhos (3,3x mais), ate o 6o semestres da graduacao (2x mais). Outras formas de alivio como cigarro, maconha, ansioliticos ou Psicoterapia nao se localizaram em qualquer variavel sociodemografica. As drogas eram usadas 2-5x mais por pessoas com os diversos sintomas de depressao, em especial tristeza (2,5-3,9x mais), alteracoes psicomotoras (2,5-3,7x mais) e fadiga (2,0-2,9x mais), alem de 2-5x mais com o quadro nosografico de Depressao Maior (3,0-4,5x mais) e de Ideacao Suicida (2,9-3,3x mais). Nao encontramos uma associacao entre o uso de drogas e tentativas de suicidio. A Psicoterapia foi o tratamento de saude mental mais utilizado pelos usuarios de alcool, cigarro e maconha, o que pode sugerir uma populacao buscando ajuda e se automedicando. Praticamente nao houve interacao entre o uso de drogas e os tratamentos psiquiatricos, mas nao encontramos usuarios de antidepressivos fazendo uso de cigarro, sugerindo a substituicao desse tratamento pela droga recreativa.As pessoas que usavam drogas, antidepressivos, ansioliticos ou faziam psicoterapia tinham uma maior ocorrencia de familiares com transtornos mentais; os fumantes possuiam mais problemas de saude, alem de uma maior ocorrencia de transtornos mentais. Nem todos os usuarios de antidepressivos e ansioliticos faziam tratamento psicologico ou psiquiatrico, sugerindo a receituacao por profissionais de saude nao-psiquiatras. Muitos alunos (mais de 60%) acreditavam que receberiam diagnostico de depressao, apesar de poucos (cerca de 10%) fazerem algum tratamento quanto a isso. Os usuarios de drogas, embora com maior ocorrencia de sintomas e ate o quadro nosografico completo de Depressao, tinham mais raramente a crenca de que teriam esse diagnostico, em relacao a amostra total. Isso pode sugerir que as drogas que esses usuarios nao caracterizavam seus sintomas como indicadores de uma psicopatologia. Nessa amostra, os usuarios de drogas recorreram 2-3x mais ao tratamento com Psicoterapia, quando comparados aos que nao usavam. Eles tinham 2x mais aparecimento de transtornos mentais em familiares, 2x mais aparecimento de problemas de saude (nos fumantes) e 2x mais diagnosticos de transtornos mentais (em geral Depressao). Assim, observamos que as drogas provavelmente eram utilizadas para lidar com alguns sintomas depressivos, presentes principalmente nos alunos de inicio e meio de curso, sem nenhuma influencia na ocorrencia de tentativas de suicidio, e tais usuarios geralmente procuravam por atendimento psicoterapeutico, mas nao psiquiatrico. E possivel que tais pessoas sejam consideradas um grupo de risco para ideacao suicida, a ser abordada na Psicoterapia. Palavras-chave : drogas, depressao, estudantes universitarios Referencias : De Cassia Rondina, R., Gorayeb, R., & Botelho, C. (2007). Caracteristicas psicologicas associadas ao comportamento de fumar tabaco. J Bras Pneumol ., 33(5), 592-601. Calheiros, P. R. V., Oliveira, M. D. S., & Andretta, I, (2006). Comorbidades psiquiatricas no tabagismo . Aletheia , 23, 65-74. Cunha, M. D. F. (2006). Adesao e nao adesao ao tratamento psiquiatrico para depressao .
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