O anjo da História tem corpo de mulher

2021 
Guiada pela inteligibilidade de um corpo-memoria que recupera o passado revelando sua latencia no presente, em Jamais o fogo nunca (2007) Diamela Eltit propoe, de forma literariamente politica, uma releitura historica da ditatura militar chilena de um modo, fundamentalmente, feminino. Neste romance, uma mulher sem nome rememora episodios passados ao mesmo tempo em que examina a banalidade do presente que compartilha com seu companheiro, a imagem degradada de uma lideranca militante autoritaria. Por meio desse corpo-ruina, que interpela o desaparecimento de um projeto politico, revelando suas contradicoes internas, Jamais o fogo nunca expoe a relacao dialetica que une passado e presente para retirar do silenciamento a hierarquia de genero que estruturou tanto o moralismo do Estado quanto as organizacoes militantes. Ao aproximar-se da ditadura militar por meio do escrutinio da masculina militância, o romance questiona a falocentrica racionalidade e elabora um tipo de aproximacao ao passado que, como colocou Walter Benjamin nas teses que compoem seu “Sobre o conceito de Historia” (1940), alia rememoracao e redencao. Neste artigo, interessa-nos investigar em que medida esse gesto – que coloca em xeque os lugares hegemonicos do saber – possibilita ao romance de Eltit postar-se como uma instância dissensual de pensamento.
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