Miguel de Unamuno e os princípios de escrita romanesca presentes em Niebla

2018 
No presente trabalho nos debrucamos sobre Niebla (1914), obra-prima do escritor espanhol Miguel de Unamuno, cuja historia retrata a paixao de Augusto Perez, “caminante de la vida”, pela professora de piano Eugenia Domingo, “la mujer del porvenir” que o rechaca. Assim, Perez sofre com a desilusao amorosa e, em consequencia disso, comeca a ter duvidas e angustias existenciais, confessadas em partidas de xadrez ao melhor amigo, Victor Goti, personagem extremamente relevante em nossa investigacao. Atraves de suas falas, sao proferidas inumeras estrategias de escrita, uma vez que Goti iniciara a elaboracao de um romance. Estas terminam por distanciar seus textos de narrativas tradicionais do genero, por isso, cria o termo nivola, permitindo-lhe efetuar distorcoes estruturais no romance. Dessa forma, buscamos, por meio da selecao de trechos de Niebla, bem como de outras obras de dom Miguel, como o ensaio Como se hace una novela (1921), evidenciar estes procedimentos de composicao e tecer consideracoes a respeito do fazer literario. Procuramos tambem, na medida do possivel, nao menosprezar as reflexoes de cunho filosofico do autor, caracteristica de sua obra. Com isso, ao elencarmos muitas das diretrizes de Goti, foi possivel comprovar o seu uso na propria composicao de Niebla, tornando-a objeto de experimentacao e aplicacao. Sendo assim, e inegavel seu carater metaficcional. Visto o lugar de destaque ocupado por Unamuno nas letras espanholas e cientes das condicoes socio-historicas nas quais a Espanha vivia e seus impactos na vida do escritor, situamos brevemente este cenario. Para tanto, usamos estudos de Jose Domingo (1973), Pedro Salinas (2001) e Joaquin Tovar (1984). Alem disso, convencidos do singular papel do leitor durante a leitura da obra, nos, leitores, nos sentimos, e de fato somos, experimentados durante essa experiencia estetica. Em virtude disso, nos utilizamos do conceito de obra aberta de Umberto Eco (1969) para compreender um pouco mais o espaco de interpretacao reservado ao leitor unamuniano. De modo recorrente, fizemos uso de analises do professor Armando Zubizarreta (1995), dadas as profundas reflexoes que produziu da obra em questao. O autor, ademais de discutir a criacao literaria em Niebla, sua nivola, trata tambem de questoes existenciais e filosoficas, sob a estrategia de se valer de metaforas variadas como nevoa, neblina, luz, etc. Embora nao de maneira inedita, o escritor transformou em tema de discussao no texto ficcional os elementos que integram o sistema literario, como o romance e o leitor, levando-o, assim, a rever seu proprio papel ao longo da leitura. Efetivamente, o exito de Unamuno se da pela juncao, ou ainda, pela opcao de nao separar tais tematicas, conseguindo, portanto, de maneira envolvente e nebulosa, nos fazer indagar sobre a nossa condicao humana e nivolesca.
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