CONCEBIDO E VIVIDO: CAMINHOS PARA INOVAÇÃO METODOLÓGICA EM ARQUITETURA E URBANISMO

2016 
1. Introducao O processo projetual e uma das tematicas mais debatidas e obscuras no âmbito da arquitetura e urbanismo, refletindo principalmente no ensino da mesma. E fato que o projeto possui uma grande complexidade epistemologica, exigindo do arquiteto conhecimentos tecnicos e artisticos de diversos niveis, colocando a arquitetura em uma posicao indefinida entre ciencia e arte. Kowaltowski.et.al (2006) Nesse sentido, a primeira problematica abordada neste trabalho se refere ao metodo e processo cognitivo em arquitetura, a fim de compreender seus paradigmas epistemologicos. Identificou-se que o movimento moderno foi o motivador das transformacoes metodologicas que fundamentaram o carater funcionalista e racionalista do arquiteto e urbanista, principalmente em decorrencia das influencias positivistas, concluindo que a producao de conhecimento deste movimento ainda influencia e e preponderante no processo cognitivo em arquitetura. De acordo com Rheingantz (2005) pode-se dividir o metodo de raciocinio dos arquitetos em dois momentos: caixa-preta e caixa de vidro, sendo respectivamente o determinismo expressivo e o determinismo operacional. Entretanto, estes metodos mostram-se obscuros e contraditorios, pois o determinismo expressivo denota o saber intuitivo que nao e passivel de codificacao e sistematizacao, ou seja, a intuicao artistica do individuo, enquanto o determinismo operacional nega qualquer tipo de conhecimento arquitetonico intuitivo. Portanto, lanca-se a primeira hipotese de que a problematica metodologica afeta diretamente o ensino da arquitetura e urbanismo, pois enquanto houver o paradigma da intuicao artistica o fazer arquitetonico nao pode ser transmitido com eficiencia, ou seja, nao pode ser ensinado somente treinado e aperfeicoado. A segunda problematica se refere ao objeto de estudo, o espaco. Percebe-se que ao longo da historia da arquitetura o espaco nao foi tratado como centralidade no debate projetual, pois as definicoes foram reduzidas a binomios e triades (forma, funcao, estrutura) que sao incapazes de capturar a complexidade da pratica espacial. Nesse sentido, tais arbitrariedades conceituais tornaram o espaco do arquiteto abstrato e analitico em contraposicao ao espaco social da realidade concreta, culminando em uma pratica arquitetonica nao consonantes com as reais demandas da sociedade (Netto, 1979). Em estudos recentes, teoricos apontam para a substituicao do espaco pelo conceito de lugar, desta forma, para os arquitetos o espaco e um dado a priori, pois e atraves do lugar que o espaco e usado e apropriado. De acordo com Limonad (2006) esta concepcao e perigosa, pois ve o espaco como atemporal, vazio e neutro. Portanto, os arquitetos projetam para um usuario sem espaco e tempo, para um ser irreal e abstrato. 2. Objetivo A presente pesquisa teve como objetivo geral identificar caminhos para inovacao metodologica em arquitetura e urbanismo tendo como premissa a dialetica, em decorrencia dos estudos teoricos que apontaram para a necessidade da reformulacao das bases epistemologicas que orientam a area em questao. Os metodos de raciocinio e processos cognitivos que partem da dialetica se mostram eficientes para compreensao do espaco (objeto de estudo do arquiteto) e potencialmente favoraveis para o ensino da arquitetura, uma vez que compreende a realidade a partir da totalidade em contraposicao a fragmentacao, historicidade em contraposicao ao espaco analitico atemporal, e praxidade em contraposicao a abstracao da pratica arquitetonica. Por fim, dentre os objetivos especificos, houve o estudo de metodos que primassem pela praxis a fim de aproximar os arquitetos e urbanistas do espaco vivido em contraposicao ao espaco abstrato e analitico do projeto, na tentativa de inverter a ordem do processo projetual, do vivido para o concebido. 3. Metodologia 3.1 Pesquisa bibliografica: caracteriza-se pelo primeiro modulo da pesquisa, possuindo grande importância, pois objetivou construir um arcabouco teorico referente ao metodo e processo cognitivo em arquitetura e urbanismo. Devido a complexidade do tema dividiu-se a pesquisa bibliografica em dois momentos: metodo e linguagem. 3.2 Pesquisa-acao : p roporcionou a aproximacao com o espaco vivido atraves da praxis, elemento da dialetica. Para realizar esta interface e lencou-se o bairro Progresso como estudo de caso, em virtude do historico de sua ocupacao e expansao urbana que remonta a logica de exclusao socioespacial no municipio de Erechim. Apos diversas analises, percebeu-se que os mapas oficiais nao caracterizavam este territorio em sua real morfologia, principalmente em decorrencia dos assentamentos informais ali existentes. Portanto, identificou-se as potencialidades da cartografia social como instrumento de aproximacao entre o arquiteto e a populacao local com o intuito de compreender e grafar o espaco vivido e percebido. Para tanto, esta etapa da pesquisa teve como objetivo sistematizar um metodo de aplicacao da cartografia social no contexto do bairro Progresso. Estes resultados metodologicos foram utilizados pelo Coletivo Varanda: atelie colaborativo de Arquitetura e Urbanismo , que aplicou junto a populacao local algumas oficinas sobre o tema, mostrando a eficiencia do metodo. 4. Resultados A presente pesquisa, concluida em 2016, produziu dois resultados principais: 1) compilacao de um arcabouco teorico referente a metodo e linguagem em arquitetura e urbanismo, que culminou na sistematizacao de um modelo metodologico tendo como base epistemologica a dialetica em contraposicao ao positivismo; 2) sistematizacao e analises de metodos que realizassem a interface entre o pesquisador e a populacao local, a fim de compreender o espaco vivido e percebido. Nesse sentido, elencou-se as potencialidades da aproximacao entre arquitetura e geografia atraves da cartografia social. 5. Conclusao Os metodos de raciocino e processo cognitivo em arquitetura e urbanismo nao sao neutros, pois derivam dos paradigmas epistemologicos positivistas fomentados pelo movimento moderno. Deste modo, levanta-se a hipotese de que as problematicas elencadas quanto ao metodo projetual e objeto de estudo do arquiteto possui um causa mais aprofundada, a propria base epistemologica vigente. Acredita-se que as transformacoes necessarias no processo projetual e no ensino da arquitetura so serao possiveis a partir da mudanca destas bases, pois como afirma Diogenes (2005) todo problema metodologico e um problema epistemologico. Portanto, o metodo dialetico mostra-se como caminho para a esta transformacao, pois mostra-se eficiente na compreensao do espaco, analisando-o a partir da totalidade, historicidade, complexidade, dialeticidade, praxidade e cientificidade. Alem disso, a tentativa de aproximacao com o espaco vivido e percebido (nesta pesquisa abordada atraves da cartografia social) mostra-se de extrema importância para romper com a logica de espaco geometrico e analitico dos arquitetos e urbanistas, pois segundo Lefebvre (1978) e notorio as dificuldades metodologicas e teoricas para compreender a totalidade urbana, porem, este e o unico processo aceitavel para evitar reducoes a conjuntos e elementos.
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