Apresentação Seção Especial Motricidades (v. 4, n. 3, seç. esp.)

2020 
Nao te esperarei na pura espera porque o meu tempo de espera e um tempo de quefazer (FREIRE, 2000, p. 5).  A tematica dos Processos Educativos e investigada ha 23 anos pelo Grupo de Pesquisa “Praticas Sociais e Processos Educativos” e, desde 2005, pela Linha de Pesquisa homonima do Programa de Pos-Graduacao em Educacao (PPGE) da Universidade Federal de Sao Carlos (UFSCar). Entre os varios espacos formativos e de dialogos vimos, desde 2009, realizando Seminario de Pesquisas em Praticas Sociais e Processos Educativos em que compartilhamos resultados de teses e dissertacoes concluidas ou em fase de finalizacao, alem de ensaios com reflexoes teoricas e metodologicas sobre Processos Educativos em Praticas Sociais [1] . Alem dos seminarios de pesquisa, temos seminarios de aprofundamento de estudos e de debates, como por exemplo, no ano 2018, problematizando os 130 anos da Abolicao da Escravatura. No ano de 2019 foi realizado o 6o Seminario, para o qual colocamos como tema o esperancar [2] . Mergulhados em vivencias e noticias diarias de crises ambientais e humanas, violencias de todo tipo, discriminacoes, historicas, e bom que se diga, num horizonte pouco alentador, para este 6o Seminario colocamo-nos o desafio de discutir o esperancar em nossas pesquisas. Nele indagamo-nos como, ao pesquisar Praticas Sociais e Processos Educativos, podemos contribuir para visibilizar, valorizar, pensar, criticar, construir, semear o esperancar . Usamos o verbo esperancar , pois entendemos esperanca como acao, movimento e que o mundo e obra e nao espetaculo. Falta de esperanca e reduzir demais a esperanca ao esperar, a uma promessa de que algo melhor sera feito por alguem sem mim. Diante dessas reflexoes, intitulamos esse Seminario como “Reflex-acoes no esperancar ” apontando, nesse titulo, a necessidade do movimento de emersao e imersao, de reflexao e acao como diz Paulo Freire na Epigrafe desta Apresentacao. Esse movimento nao e distinto ou anterior, ou posterior ao esperancar , mas ocorre conosco mergulhados e mergulhadas nele, cotidianamente. Em 2019 foi lancada a Campanha Latino-Americana e Caribenha em Defesa do Legado de Paulo Freire. Fizemos tambem do Seminario uma homenagem a esse legado ao lancar como tema central gerador de nossas discussoes o esperancar freireano, o movimentar-se em direcao ao “inedito viavel” como nos ensina nosso Patrono da Educacao. Inedito viavel se constroi na dialogicidade em comunidade critica de trabalho, “[...] pelo mundo afora e pela tradicao adentro” (KAYAPO; KAYAPO, 2019, p. 21), enraizados e enraizadas. Mas de que raizes estamos falando? Com esta problematizacao em mente, decidimos que a conferencia de abertura ficaria a cargo de um representante de povos indigenas para nos trazer seu entendimento acerca dessas raizes e desse movimento de esperancar enraizado. Tendo o entendimento da pesquisa como processo tambem politico e de resistencia e criacao, trata-se de evidenciar, reconhecer, tomar como base e processo da ciencia que produzimos, conhecimentos, culturas, modos de ser-resistir daqueles e daquelas a quem se tentou convencer serem seres menos, seres nao humanos, nao seres. Seres e culturas que sobreviveram e sobrevivem a espoliacao material e cultural e da vida. Com essas reflexoes convidamos Kaka Wera [3] , indigena da etnia tapuia, para proferir a Conferencia de Abertura, tendo sido intitulada “Esperancar: conectar raizes para construir acoes” [4] . Em seguida a conferencia, tivemos dois dias de apresentacoes dos trabalhos, alguns dos quais estao sendo publicados com atualizacoes e adequacoes nesta secao especial da “Motricidades: Revista da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana”. O primeiro trabalho “ Futbol callejero : esperancando alteridade”, de autoria de Mauricio Mendes Belmonte e Luiz Goncalves Junior, apresenta essa pratica social a qual estabelece interface entre o jogo de futebol com os horizontes emancipatorios-libertadores da Educacao Popular. Analisam que essa pratica contribuiu para a fruicao do processo educativo da alteridade e, desde esta perspectiva, o ser-mais freireano. No artigo “Os ‘auloes’ nos espacos de privacao de liberdade como ato de esperanca”, Luciana Ferreira da Silva Moraes e Elenice Maria Cammarosano Onofre analisam a atividade de preparo e desenvolvimento de aulas baseadas em um tema gerador - denominadas “auloes” - e que acontecem em espacos de privacao de liberdade nos municipios de Cuiaba e Varzea Grande, estado de Mato Grosso. Concluem as autoras, que os “auloes” se apresentam como possibilidade de educacao libertadora mesmo em um espaco com normas rigidas e opressoras como a prisao. Seguem-se Djalma Ribeiro Junior e Maria Waldenez de Oliveira, no ensaio “Processos educativos pelas veredas do esperancar”, nos apontando, a partir das experiencias de comunicacao popular da Mostra de Audiovisual de Cambuquira (MG), que a construcao do esperancar pode se dar por meio de algumas dimensoes, das quais o artigo destaca o dialogo, o convivio dialogico e a comunhao de projetos de mundo que encaminham a construcao de conhecimentos com compromisso social. A seguir, temos o ensaio “Vivencias de Jongo com criancas na escola: educacao das relacoes etnico-raciais”, de Vivian Parreira da Silva e Aida Victoria Garcia Montrone, apresentando experiencias fundamentadas em vivencias de Jongo numa escola na cidade de Sao Carlos (SP) com criancas de 6 e 7 anos, como caminho possivel para praticas educativas antirracistas. As autoras concluem que os processos educativos vivenciados em dialogo com os saberes jongueiros sao ferramentas de luta ancestral para esperancarmos uma educacao que promova vida, diversidade, afeto e coragem. Desejamos que os artigos propiciem leituras criticas que alimentem esperancas, conexoes, acoes, rebeldias. Boas leituras.  [1] Para mencionar alguns temas anteriores deste Seminario de Pesquisa, tivemos: “90 anos do nascimento de Paulo Freire” (2011); “Contribuicoes da Profa. Petronilha Beatriz Goncalves e Silva” (2013); “Educar-se em Direitos Humanos” (2014). [2] O verbo “esperancar” indica acao e uma contraposicao ao verbo esperar, como expresso na epigrafe. [3] Informacoes sobre Kaka Wera podem ser acessadas em: https://www.kakawera.com/about-me . [4] A Conferencia pode ser visualizada em: https://www.youtube.com/watch?v=k_enzUWBgeM .
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